quinta-feira, 5 de julho de 2012

Saberes.

O conhecimento é cumulativo e, até o momento, não se reconhecem limites para ele. Folheando as páginas de livros de história, como professor que sou, noto que há circunstâncias no processo histórico da espécie humana em que as descobertas se acumulam em grande soma, como o curto período de 15 ou 20 anos da história mundial recente, assim como há tempos onde claramente se nota uma "pausa" no ritmo de inovações. É como se o tempo passasse devagar para um observador posicionado em um tempo futuro e que adota uma postura analítico-comparativa em relação a um determinado recorte temporal. Percebo que em cada presente, existe um "espírito do tempo" que marca o que as pessoas pensam, falam, produzem ou se organizam socialmente. E esses fatores interferem na produção de tecnologia, nas ambições e vaidades pessoais.

A humanidade tem a capacidade de captar e interpretar as informações que o ambiente lhe proporciona por meio de nossos receptores sensoriais. E oferece ao mundo que o cerca uma resposta. Somando-se a um contexto sócio-histórico que estimule a engenhosidade e o espírito de descobertas, temos como consequência o aprimoramento tecnológico. Quando não há sistemas de compensações e estímulos, o desenvolvimento de tecnologias estagnam. 

Vejamos o caso da história européia: 

O colapso da cultura clássica levou à fragmentação de poder político e por conseguinte ocasionou a ruralização da sociedade daquele continente, em meados do século V. Antes da ruína do maior império da antiguidade, o Romano, governantes da 'cidade eterna' ou de suas províncias  canalizaram grande  soma de recursos outrora destinados a construírem grandes monumentos nos tempos áureos para manter militarmente a defesa de suas fronteiras. Esforços em vão. Diversos povos cruzaram o Danúbio e causaram pânico à população romanizada. As atividades comerciais e urbanas declinaram, com a diáspora urbana do senhorio aristocrático rumo às suas propriedades no campo. Uma das categorias profissionais mais afetadas com as invasões germânicas foi a dos engenheiros, creio eu. O desenvolvimento técnico parou pela falta de 'financiadores'.

Com a constituição da sociedade medieval plenamente cristianizada, mesclando elementos culturais romanos e bárbaros, a vida social passou a se resumir em comunidades autossuficientes conhecidas como feudos. As construções senhoriais mais avançadas passaram a ser os castelos fortificados, cuja elegância e conforto eram dispensados. 

Julgamos a Idade Média como Idade das Trevas, por conta do predomínio do dogmatismo religioso e retrocesso da urbanidade. Por incrível que pareça, a Igreja muito contribuiu para a preservação e reavivamento de padrões da técnica clássica, ao edificar por todo aquele continente, catedrais em estilo gótico, que exigiam bastante perícia. A Notre-Dame, data da Baixa Idade Média, por volta do século XII. Monges guardaram  e copiaram em seus monastérios uma grande quantidade de textos de pensadores greco-romanos. 

As cruzadas, convocadas inicialmente pelo Papa romperam os limitados horizontes feudais. Cruzados retornaram da Palestina com grande quantidade de riquezas e mercadorias, que foram vendidas com boa margem de lucro. Surgem as feiras, as casas de câmbio, bancos, corporações de ofícios e, por fim, a necessidade de uma justificação ideológica para a prática do lucro e de uma postura de individualidade em relação ao pensar e agir. A unificação de feudos em monarquias nacionais com a ajuda do novo substrato social, a burguesia, até então alijada de direitos políticos foi um reflexo óbvio da crise feudal.

A acumulação monetária desta classe social, no Renascimento (séc XV-XVII) fez com que a engenharia voltasse ao pleno vigor comparativo ao da antiguidade clássica greco-romana, pois retornaram os investimentos públicos e privados para a confecção de prédios com o máximo de precisão e sofisticação, como por exemplo a Basílica de São Pedro e sua enorme abóbada projetada por Michelângelo, o mesmo que fora contratado pelo Papa Sisto IV para ilustrar o teto de sua Capela, a Sistina, com afrescos de passagens bíblicas que contam a história do surgimento do universo e da salvação do homem. Banqueiros, da mesma forma, erigiram grandiosos palacetes e contratavam serviços de pintores renomados para imortalizarem suas imagens. Pagavam altas somas por isso. E assim, desenvolveram-se as artes. Com o passar dos tempos, os estilos e as motivações dos traços e pinceladas foram se modificando, acompanhando as transformações temporais.

E foi um padre da Igreja, Nicolau Copérnico, quem descobriu a maior verdade de todas: que a terra gira ao redor do sol, o que abriu margem para o questionamento da posição dogmática da própria instituição religiosa, que manipulava o que era ou não correto.

Nunca se quebraram tantos paradigmas! Há relação entre progresso material e acumulação de saberes? De que forma os fatos históricos de grande repercussão aceleram ou atrasam a história, como a II Guerra Mundial ou os atentados de 11 de setembro de 2001? Eis um intrigante questionamento que certamente tem tirado o sono de muitos filósofos. 

Somos motivados pela busca da verdade, embora sabendo todos que a verdade última do tudo nos é desconhecida. Quanto mais avançamos nesta apropriação de conceitos, mais perguntas passamos a formular ao que nos intriga. Há lacunas dentro dos princípios gerais das ciências que persistirão por muito tempo. Algumas respostas só obteremos após mais avanços tecnológicos. Hoje, foi descoberto o bóson de Highs, pondo abaixo algumas premissas de Einstein. E assim, poderá se fazer uma nova leitura do universo, bem como abrir novos campos de estudo e pesquisa, que fatalmente levarão os seres humanos a sofisticarem as tecnologias já existentes.

Jamais teríamos conhecimento do código genético ou mesmo produtos genéticos se Antonie Van Leeuwenhoek tivesse inventado o microscópio e realizado a descoberta da vida em sua forma mais elementar: a célula. 

Enfim, o que quis dizer com tudo isso? Que cada inovação serve de base para novas descobertas. A da energia permitiu o desenvolvimento do rádio, da gravação em rolos de filmes, depois surgiu a tv e hoje se discute a convergência de tecnologias. O que nos aguarda para adiante? quem viver, verá!

Nenhum comentário: